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Sociedade

Epidemia Silenciosa | 76% dos moçambicanos já consomem álcool

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O consumo de álcool em Moçambique está a crescer a um ritmo alarmante e ameaça tornar-se numa das maiores crises de saúde pública da actualidade. Dados recentes revelam que mais de 76% da população moçambicana consome bebidas alcoólicas, um aumento de 31% nos últimos 20 anos — e que o impacto já se faz sentir nas estatísticas de mortalidade, doenças mentais e perturbações de comportamento.

Segundo o Inquérito Nacional de Prevalência de Factores de Risco para Doenças Crónicas (InCRÓNICA-2024), conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde, o consumo de álcool entre os moçambicanos saltou de 45,2% em 2005 para 76,5% em 2024. O estudo mostra ainda que a faixa etária entre 25 e 44 anos é a mais afectada: 78,1% dos indivíduos nessa idade consomem bebidas alcoólicas com regularidade.

Uma geração a perder-se no copo

A tendência é particularmente preocupante entre os jovens e adolescentes, cada vez mais expostos a bebidas espirituosas de baixo custo e alto teor alcoólico. A combinação de acessibilidade, desemprego e ausência de políticas de prevenção tem transformado o álcool numa droga socialmente aceite, mas devastadora.

Nos serviços de saúde, o reflexo é claro. Só no primeiro semestre de 2025, 18 mil pessoas foram atendidas em unidades sanitárias do país por Perturbações Mentais e de Comportamento (PMC) associadas ao consumo de álcool e outras drogas. Em 2024, foram registados 23.412 casos, dos quais mais de 4 mil resultaram em internamentos psiquiátricos devido à gravidade dos sintomas.

Entre 2023 e 2025, o aumento de casos ultrapassa os 7 mil novos atendimentos, evidenciando uma escalada sem precedentes.

O álcool e a morte: números que não se ignoram

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O impacto do álcool na mortalidade também cresce de forma assustadora. Em 2005, as doenças não transmissíveis — entre as quais se incluem as causadas pelo consumo de álcool — representavam 8% das mortes registadas. Em 2025, essa proporção subiu para 29%, segundo dados compilados pelo Observatório Cidadão para a Saúde (OCS).

Estes números confirmam que o álcool não é apenas uma questão moral ou cultural — é um factor de destruição colectiva, que mina famílias, agrava a pobreza e sobrecarrega o sistema nacional de saúde.

Em Setembro de 2025, o Governo aprovou o Regulamento sobre o Controlo de Produção, Comercialização e Consumo de Bebidas Alcoólicas (Decreto n.º 31/2025), destinado a impor maior rigor no fabrico e venda das bebidas. Contudo, o instrumento legal entrou em vigor num contexto de fragilidade técnica e institucional.

O único laboratório público destinado a fiscalizar a qualidade das bebidas não dispõe de condições adequadas para testar certos parâmetros, o que compromete a aplicação do regulamento.

A situação agrava-se com a falta de fundos para o Ministério da Saúde (MISAU), que deveria receber 35% das receitas do Imposto sobre Consumo Específico (ICE) sobre bebidas alcoólicas, conforme determinado pelo Decreto n.º 36/2023. Até ao momento, esses valores não estão a ser transferidos pela Autoridade Tributária (AT), impedindo o MISAU de investir em prevenção e tratamento.

Um problema de todos

Para o Observatório Cidadão para a Saúde (OCS), o país enfrenta um dilema ético e político: de um lado, o Estado arrecada receitas com a venda de bebidas alcoólicas; do outro, não assegura os meios mínimos para reparar os danos que o próprio consumo causa.

“Estamos perante uma bomba-relógio social e sanitária. O consumo de álcool está a destruir silenciosamente a juventude moçambicana, e o Estado não pode continuar a fingir que regula o que não controla”, alerta o OCS.

🟣 Nota de Redacção

Este artigo foi produzido através do texto (O Crescente Consumo de Álcool em Moçambique: Uma Crise de Saúde Pública – https://www.observatoriodesaude.org/o-crescente-consumo-de-alcool-em-mocambique-uma-crise-de-saude-publica/ ) da autoria do Observatório Cidadão para a Saúde (OCS), uma organização da sociedade civil que monitora políticas públicas e o desempenho do sistema nacional de saúde. O texto foi editado apenas para clareza e enquadramento jornalístico, mantendo-se integralmente o conteúdo e a análise original da instituição.

O título é da inteira responsabilidade do NGANI

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