Política
“Adriano Nuvunga faz teatro político”, acusa neto de Manyanga em carta explosiva
O antigo candidato à Presidência da República pelo partido PODEMOS em 2019, Hélder Mendonça — neto do histórico combatente moçambicano Francisco Manyanga — lançou duras críticas ao académico e activista Adriano Nuvunga, director do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD).
Numa carta aberta publicada esta semana na sua página do Facebook, Mendonça acusa Nuvunga de “confundir zelo democrático com caça às bruxas” e de transformar a fiscalização dos poderes públicos em “espetáculo político”.
A reação surge após declarações de Nuvunga, proferidas numa formação, segundo as quais procuradores não devem organizar convívios sociais com membros do Governo nem deixar dúvidas sobre a origem de fundos usados em eventos privados.
Na missiva, o político não escondeu a sua indignação: “Nenhuma lei proíbe um procurador de realizar festas privadas, muito menos de convidar quem bem entender — desde que não haja uso de recursos públicos ou troca de favores”, escreveu Mendonça, acrescentando que a posição de Nuvunga é “moralismo selectivo e perigoso”.
Para Mendonça, exigir que magistrados justifiquem convívios pessoais seria “tão absurdo quanto obrigar um cidadão comum a publicar os recibos do seu casamento”.
Apesar de reconhecer que a ética pública exige prudência, Mendonça rejeita a ideia de que percepções de conflito de interesse possam substituir provas de corrupção. “Percepção não é prova, e percepção sem prova é boato travestido de activismo”, disparou.
O ex-candidato presidencial defende que, em caso de indícios concretos de má conduta, Nuvunga deveria avançar com processos formais em vez de “insinuações destinadas a provocar escândalo gratuito”.
Populismo e incoerência
Num dos trechos mais contundentes, Mendonça acusa Nuvunga de fomentar um clima de “justicialismo performativo”, que coloca em causa a confiança institucional. “Basta suspeitar para acusar, basta filmar para julgar, e basta indignar-se para ter razão. Isso não é justiça social”, criticou.
Para o neto de Manyanga, a incoerência mina a legitimidade da sociedade civil: “Quem combate um sistema podre não pode tornar-se o rosto de uma nova podridão disfarçada de fiscalização”, escreveu.
Mendonça conclui a carta com um apelo a um debate mais responsável, afirmando que o país precisa de fiscalização séria, mas sem perseguições. “Fiscalizar, sim. Perseguir, não. Construir consciência, sim. Semear ódio, não. Promover ética, sim. Mas com verdade, não com teatralidade.”
Adriano Nuvunga é uma das vozes mais influentes da sociedade civil moçambicana, frequentemente crítico da governação da FRELIMO e da actuação do sistema judicial. As suas intervenções são vistas por muitos como essenciais para a transparência democrática, mas também têm suscitado acusações de populismo.
Já Hélder Mendonça, além do passado como candidato presidencial pelo PODEMOS, carrega o peso simbólico de ser neto de Francisco Manyanga, combatente da luta de libertação e figura de referência na história política de Moçambique.