Política
Venâncio Mondlane acusa “esquadrões da morte” e questiona Justiça na morte de Elvino Dias e Paulo Guambe

O ex-candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane afirmou à agência Lusa que não acredita que a Justiça vá esclarecer o duplo homicídio dos seus apoiantes, Elvino Dias e Paulo Guambe, ocorrido a 19 de Outubro de 2024, em pleno centro de Maputo.
Segundo Mondlane, o crime, que vitimou Dias, conhecido como “advogado do povo”, e Guambe, mandatário do partido PODEMOS, teria sido encomendado pelos chamados “esquadrões da morte”, e dificilmente seria investigado com rigor no “actual regime” e sistema judiciário do país.
“Não posso dizer nunca. Mas com o regime actual, será muito difícil termos Justiça. É por isso que temos que fazer pressão. Já estou a preparar a ideia de um protesto nacional relativamente a estes crimes não esclarecidos”, declarou Mondlane à Lusa.
O duplo homicídio, ocorrido poucos dias após as eleições gerais de Outubro de 2024, gerou choque nacional e desencadeou protestos populares que se prolongaram por mais de cinco meses. A investigação policial, até hoje, não apresentou suspeitos nem esclareceu motivações precisas.
Mondlane sublinhou que câmaras de videovigilância na avenida Joaquim Chissano, no centro de Maputo, poderiam ter identificado os autores do crime, mas alegou que houve bloqueio institucional das provas. “É um trabalho encomendado por aqueles que gerem e promovem os esquadrões da morte”, criticou.
O ex-candidato presidencial defende a realização de um “dia de reflexão” em Moçambique, como forma de protesto contra a impunidade e a violência, e alertou para o histórico de assassinatos e crimes que, na sua visão, colocam o país entre os mais perigosos da região.
Lembre-se que em Janeiro deste ano, o Centro para Democracia e Desenvolvimento Humano (CDD) submeteu à Procuradoria-Geral da República (PGR), uma denúncia contra suspeitos de envolvimento no assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe.
“Desde finais de Outubro que viemos perseguindo, investigando, entrevistando pessoas sobre as circunstâncias e os possíveis assassinos e autores materiais e morais que deram ordem para o assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe”, disse na altura o Director-Geral do CDD, Adriano Nuvunga.
Segundo Nuvunga, à denúncia estão acopladas evidências, incluindo testemunhas, que indicam que os assassinos saíram da Cadeia Civil.
“Saíram da Cadeia Civil. Alguém abriu a porta para eles, os mandou para Moamba, para, aparentemente, irem trabalhar na machamba, mas, na verdade, foram libertos para executar essa missão hedionda de tirar vida ao Advogado Elvino Dias e ao político Paulo Guambe”, acrescentou.
A denúncia do CDD recai sobre o Chefe de Operações Penitenciárias da BO, Roque Xavier, que facilitou a saída irregular dos reclusos Julião Ruben Munguambe e Edson Cassiano Lacerda Sílica.
Falando à imprensa à saída da PGR, Nuvunga disse na altura, tratar-se das mesmas pessoas que ordenaram o assassinato do activista Anastácio Matavele, em 2019. “O que viemos apresentar aqui na procuradoria é bastante para que se pudesse desencadear ações que deveriam resultar em detenções imediatas das pessoas implicadas”, afirmou.
O Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo como vencedor das eleições de 9 de Outubro de 2024, com 65,17% dos votos, enquanto Mondlane obteve 24% e nunca reconheceu os resultados. Desde então, a contestação pós-eleitoral provocou centenas de mortos e feridos.