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Sociedade

Obras no Hospital Central de Nampula custam a vida de mulher grávida

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A cidade de Nampula ficou em choque no último sábado com a morte de uma mulher grávida proveniente do distrito de Mogovolas, sul da província. O caso ganhou repercussão nas redes sociais, onde se apontou a alegada negligência de um profissional de saúde como causa do óbito.

Por Agostinho Miguel

Para esclarecer as circunstâncias, a Direcção do Hospital Central de Nampula (HCN) convocou a imprensa hoje. O médico ginecologista e responsável da maternidade, Dinis Vieira, explicou que a instituição atravessa um processo de reabilitação, obrigando a utilização de espaços improvisados para o atendimento das pacientes.

Segundo Vieira, a maternidade, construída nos primeiros anos pós-independência, não correspondia às exigências atuais diante do crescimento populacional e do aumento da procura por serviços de saúde. “Estamos a requalificar a maternidade para garantir melhores condições de trabalho aos profissionais e uma assistência mais humanizada à mulher grávida e ao recém-nascido”, afirmou.

Actualmente, a maternidade funciona em instalações temporárias, limitando a capacidade de internamento e resposta a emergências. “Estamos a trabalhar onde antes funcionava o serviço de urgência, com poucas camas. Mesmo assim, realizamos cerca de 30 partos e 15 cesarianas por dia”, revelou.

O médico apelou à compreensão da população, esclarecendo que a urgência deve ser reservada a casos críticos. “Temos doentes que procuram urgência apenas para saber o sexo do bebé ou por problemas de fertilidade. Esses casos devem ser atendidos em consultas externas”, frisou.

Vieira explicou que o hospital instituiu uma taxa moderadora de 400 meticais para pacientes que recorrem à urgência sem encaminhamento das unidades periféricas, prática comum em hospitais de referência, mas que não garante atendimento imediato se o caso não for de urgência.

Quanto às denúncias de cobranças ilícitas e mau atendimento, o médico sublinhou que qualquer acto de corrupção deve ser denunciado às entidades competentes, e não apenas nas redes sociais. A maternidade possui caixas de denúncia e números de contacto do Gabinete Central de Combate à Corrupção afixados nas paredes.

Sobre o caso específico, o HCN confirmou tratar-se de uma paciente de quase 50 anos, com nove gestações anteriores, considerada uma grávida de alto risco. “Infelizmente, foi transferida tardiamente da unidade sanitária de origem e chegou em estado crítico. A morte resultou de uma rotura uterina, uma catástrofe obstétrica de evolução rápida”, explicou.

O médico detalhou que, no momento do ocorrido, o hospital lidava com quatro emergências simultâneas e apenas uma sala cirúrgica em funcionamento devido às obras. “A equipa médica fez o possível para salvar a paciente, mas o tempo de reação era extremamente curto”, lamentou.

Vieira esclareceu ainda que o médico apontado nas redes sociais como negligente “nem sequer estava presente no momento da chegada da paciente”, acrescentando que ele realizou, naquele mesmo dia, dez cirurgias que salvaram outras vidas. “É injusto destruir a reputação de um profissional exemplar com base em suposições”, afirmou.

Todas as mortes maternas são analisadas por um comité especializado para identificar falhas e responsabilidades. “Este caso foi exaustivamente estudado e concluiu-se que a falha não ocorreu no hospital, mas no acompanhamento pré-natal e no atraso da transferência”, adiantou.

O HCN defende que o episódio sirva de alerta para o fortalecimento do sistema de referência e contra-referência, garantindo que mulheres com gravidez de alto risco sejam acompanhadas em unidades com capacidade cirúrgica.

A Direcção assegura que as obras de reabilitação da maternidade estarão concluídas dentro de três meses, trazendo melhores condições para evitar tragédias semelhantes no futuro.

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