Connect with us

Opinião

Professor: Um Herói que só é lembrado em tempos de eleições

blank

Publicado há

aos

blank

Num tempo em que tantas profissões ganham aplausos e reconhecimento, há uma que, silenciosamente, continua a sustentar os alicerces de uma nação: a do professor. No dia 12 de Outubro, celebra-se em Moçambique o Dia do Professor, uma data que deveria ser marcada por homenagens sinceras, valorização justa e políticas públicas concretas.

Porém, a realidade pinta um cenário bem diferente. O professor moçambicano é um sobrevivente. Enfrenta salários atrasados, condições precárias, falta de promoções e progressões, turmas superlotadas, pressão social e, ainda assim, não desiste da missão de ensinar. Dedicar este artigo ao professor (meu par) é, antes de tudo, um ato de justiça e gratidão.

O panorama educacional moçambicano continua a apresentar desafios crônicos. Embora o governo declare avanços no setor da Educação, os problemas estruturais persistem: escolas com carteiras quebradas, ausência de material didático, salas de aula improvisadas debaixo de árvores ou em edifícios degradados, longas distâncias que muitos professores percorrem a pé, e um sistema salarial que mais desmotiva do que incentiva.

Os professores são obrigados a se virar entre empréstimos bancários e agiotas do bairro para sobreviver. Em muitos casos, após descontos e dívidas, o salário que cai na conta é inferior a 500 meticais — valor insuficiente até para pagar o 10Kg de Arroz. E mesmo assim, eles não abandonam a sala de aula. Continuam firmes, preparando aulas, corrigindo trabalhos e inspirando futuros profissionais.

O professor é um construtor de sonhos. Ele não trabalha com ferramentas, mas com palavras, paciência e conhecimento. Ele não usa fardas, mas carrega uma responsabilidade patriótica: formar os quadros do amanhã. E a pergunta que se impõe é: por que o professor é tão esquecido?

Talvez porque, na hierarquia da valorização social, o professor não produz lucro imediato, não carrega armas, não cura doenças com medicamentos. Mas sem ele, não existiria o médico, o engenheiro, o militar ou o político. Todos passaram pelas mãos de um professor. E mesmo sabendo disso, a sociedade parece fazer vista grossa ao sofrimento deste profissional.

Neste 12 de Outubro, que a nossa homenagem vá além das palmas simbólicas ou das palavras bonitas. Que se transforme em ação concreta. O professor precisa de mais do que reconhecimento — precisa de dignidade. Precisamos rever a forma como tratamos aqueles que nos educam, pois não haverá país desenvolvido com professores maltratados e esquecidos.

Os casais, os pais, os jovens e a sociedade em geral precisam entender que a valorização do professor começa dentro de casa: ensinando respeito por ele, apoiando sua luta, participando da vida escolar dos filhos e, principalmente, exigindo políticas públicas sérias para o setor da Educação.

Ao governo, cabe mais do que promessas — cabe ação efetiva. Não se pode esperar que um país cresça quando os seus educadores estão na base da pirâmide social, lutando pela própria sobrevivência. É preciso investir no professor com urgência, pois é ele quem molda a consciência da nação.

A luta por melhores salários, pagamento total das horas extraordinárias, pelo reconhecimento da carreira docente e por condições de trabalho dignas não é nova. O que assusta é a normalização da miséria do professor. Hoje, é comum ouvir casos de professores que ensinam o dia inteiro e à noite vendem amendoim ou fazem táxi-motas “txopelar“, para complementar a renda. É triste, é revoltante, e mais ainda é a indiferença com que muitos encaram essa situação.

Além disso, o impacto psicológico em muitos professores é devastador. Como alguém pode manter a motivação ao ver que, mês após mês, seu salário não cobre sequer os produtos da cesta básica? Como pode ensinar esperança e futuro para os alunos, quando nem consegue garantir o próprio sustento?

Apesar de tudo isso, há algo que o sistema ainda não conseguiu destruir: a vocação do professor. Ele continua firme, mesmo cansado, continua sorrindo, mesmo com lágrimas escondidas, e continua ensinando, mesmo com o estômago vazio. Isso porque ser professor não é apenas um emprego — é um chamado.

Por fim, deixo um apelo: respeite o seu professor. Quando o ver passar por aí, cumprimente-o com gratidão. Quando ouvir que está em greve, apoie sua causa. E se tiver a oportunidade, ajude-o a continuar acreditando que sua missão ainda vale a pena. Porque enquanto houver professores com coragem de ensinar, mesmo com as mãos vazias, ainda há esperança para Moçambique.

Por Adriano Ricardo

Continue Lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *