Opinião
Até sempre, João Chamusse!

Em verdade, quando tal sucede, a Humanidade – tão falha de valores reais, diminuída, assim, no seu válido percurso transitório, mas não obstante, de expressão mais concreta e positiva, no vasto campo das potencialidades humanas – parece ficar, justificadamente, mais entristecida e, desoladoramente, mais pobre…
Seja em que campo das suas mais altas expressões, nas Letras (onde se inclui o Jornalismo Profissional), nas Ciências, na Medicina, no Ensino, na Música, no Teatro ou nas Artes – quando uma Luz Espiritual, de excepcional fulgor Criador e de requintada sensibilidade modeladora, se apaga, no angustiado Mundo Terreno em que vivemos, – independentemente das suas causas -, pleno de interrogações espirituais esfíngicas e sempre mudas na sua resposta inacessível ao frágil barro da nossa percepção terrena, e transpõe a Porta da Eterna Incógnita que conduz às misteriosas sombras da Eternidade – há fundamentalmente razão para que todos aqueles que ficam, ainda, vivendo, desolados, a preocupante hora triste da abalada, se sintam diminuídos na já frágil riqueza do seu Património oral, artístico, linguístico e de Luto pesado na devoção fraterna e admirativa que acaso os prendia à justa admiração do génio que parte para não mais voltar ao seu convívio quotidiano, encantador e alegre…
Esta é uma história velha que se repete – e que continuará repetindo-se, incessantemente – através do rolar infindável dos Séculos, deixando-nos, para sempre, mergulhados na nossa Dor e na nossa Saudade, misteriosamente, no NADA que somos perante a grande incógnita da existência e da pequenez humana a que vivemos invencivelmente algemados… A propósito, estou-me a lembrar das três interrogações ansiosas de Marie Téophile Leukeux (1828-1894), transplantadas do Campo Astronómicos, em que as situa, para o campo, mais ansioso ainda, da existencialidade terrena deste “bicho da terra tão pequeno” que, efectivamente, somos, perante a grandeza do Universo: — D´où venons-nous? — Où sommes-nous? — Où allons-nous?— que tão vasto campo de meditação útil abrem para a necessária consciencialização da pessoa humana, liberta de vaidades fúteis e de prepotências arrogantes e condenáveis…
João Chamusse foi inesperadamente surpreendido na calada da noite e barbaramente assassinado, na Ka Tembe, na outra margem de Maputo, na madrugada do passado dia 14 do corrente mês, quando regressava a casa sozinho, vindo de uma festa de amigos.
Mas, deixemos, por agora, a notícia deste acto criminoso e dos seus violentos contornos com a PRM – que, entretanto, veio a capturar o autor do criminoso acto, horas depois – e continuemos com as divagações espirituais apropositadas que vínhamos fazendo – para referir a circunstância triste que leva o Jornal NGANI a rabiscar estas desataviadas linhas na abertura da Nota Editorial, que ora publicamos com pesar.
Há dias, ainda, dada a imutabilidade eterna daquela realidade indesvendável, puramente irreversível, do nosso viver terreno, o fenómeno inesperado se verificou, com todas as suas fatais consequências e características de desolação e de tristeza, ao tomarmos conhecimento da tragédia que havia tirado a vida, nessa noite, ao malogrado Jornalista e Amigo João Chamusse — que em vida foi um ser realmente fantástico — um ser humano de privilegiado espírito de luz que enchia, a cada hora, de fraternidade cativante e despretensiosa o convívio diário e simples junto de todos os seus camaradas de Redacção e Administracção do Jornal Ponto Por Ponto, da Família e dos Amigos.
Por último, recordá-lo como Homem e Profissional, para dizer que em toda a sua Vida não temos notícia de ter sido menos correcto para qualquer pessoa, pois a todos dava a maior e melhor atenção — não olhando à cor epidérmica da pele, à sua classe social, religiosa ou política — produto, sem dúvida, da sua esmerada educação, carácter e, sobretudo, da grandeza da sua Alma, não obstante ter nascido no seio de uma Família sem grandes recursos económicos e instrução académica.
Aqui chegados, resta-nos apresentar as nossas sinceras Condulências à Família enlutada e desejar Paz à Sua Alma de Eleição.
Até Sempre, João Chamusse, estejas TUonde estiveres!
Afonso Almeida Brandão
