Sociedade
Nampula: Auto-medicação da conjuntivite coloca nove pessoas na eminência da cegueira definitiva

A eclosão da conjuntivite hemorrágica em Nampula, já está a trazer problemas oculares graves na província. Até a última sexta-feira, nove pessoas estavam internadas no Hospital Central de Nampula (HCN), na eminência da cegueira definitiva, por uso de substâncias diversas para a auto-medicação, sem orientação da Saúde.
Segundo a médica oftalmologista do HCN, Marta Abudo, os números de casos de conjuntivite hemorrágica a entrarem naquela que é considerada como a terceira maior unidade hospitalar do país, nos últimos dias, tende a reduzir e o que preocupa a instituição, é o internamento de um total de onze pacientes com lesões nos olhos, por causa da auto-medicação, sendo nove destes, com situação grave e com probabilidade de terem a cegueira definitiva.
Trata-se de pacientes com perfuração ocular, uma complicação que está advir do uso inapropriado de substância a nível da comunidade. “Os pacientes não estão a vir à Unidade Sanitária para fazer o diagnóstico e o tratamento adequado, estão a optar por fazer tratamentos por indicações a nível da comunidade, o que não é bom e agora, nós já estamos a ver as consequências disso”, disse.
Das substâncias usadas para a suposta cura da conjuntivite hemorrágica nas comunidades, destacam-se, a urina humana, ceivas de folhas de feijão bóer, de mandioca, bálsamo, bebida energética (da marca dragon), detergente em pó e muitas outras que na realidade, não estão a melhorar a situação.
“Todos pacientes que estão na nossa enfermaria, durante o nosso interrogatório, referiram que usaram parte destas substâncias que me referi e acabaram tendo as complicações como a perfuração, então, é importante que as pessoas percebam da necessidade de ir à Unidade Sanitária, ainda que as mesmas encontram-se lotadas, para ter melhor orientação”, disse.
“Infelizmente os nove casos que temos aqui são graves, estes pacientes provavelmente vão viver na cegueira, por uso de uma substância que não foi subscrita por um técnico de saúde e que se não tivesse usado, não teria essa complicação. Maior parte desses é de perfurações oculares graves bilaterais e dois deles unilaterais. Estes últimos podem perder a visão de um olho, mas o outro vai continuar a funcionar”, acrescentou a médica.
Os casos, na sua maioria, são oriundos das periferias da cidade de Nampula. Marta Abudo diz que são pessoas que têm Unidades Sanitárias por perto e poderiam aceder a elas, para lhes serem prescritas a medicação correcta, mas por orientação de vizinhos e conhecidos, acabaram ignorando a Saúde e como consequência, tiveram as complicações.
“Todos estes pacientes estão internados e a serem tratados no nosso departamento e logo que for controlado o quadro infeccioso, vai se tentar fazer um recebimento, que é para fechar o orifício que se perfurou, porém, apesar de fazer este fechamento, não significa que vai ter a recuperação visual porque infelizmente a córnea toda está acometida”. “Esta é a intervenção que o Hospital pode fazer e outra intervenção, que poderia ser o transplante corneal. A Unidade Sanitária não tem o serviço, o que significa que os pacientes vão acabar ficando com as sequelas”, avançou.
Na última semana o Hospital Central de Nampula recebeu para consultas externas de conjuntivite hemorrágica, uma média de 20 a 30 pacientes, uma redução significativa, quando se comparado com a semana anterior, onde era possível atingir 130 consultas diárias. “Não sabemos se isso significa a redução de infecções nas comunidades ou se as pessoas estão a usar esses medicamentos sem prescrições adequadas, mas queremos crer que o número de casos tenham a reduzir, também queremos assegurar que nós como departamento, temos medicamentos suficientes e estamos a responder tudo aquilo que é a medicação, com os medicamentos que temos aqui no hospital” assegurou a fonte.
Circulação de mensagens nas Redes Sociais
Nos últimos dias, estão a circular imagens de alguns medicamentos nas redes sociais, com a informação de que não podem ser usados para o tratamento de conjuntivite, sob o risco de causar a cegueira. Trata-se de medicamentos como quetorolac, oxoxicina e atropina.
Para a médica oftalmologista, a quetorolac e oxoxicina, são gotas indicadas para tratar casos inflamatórios e infecciosos, mas a atropina não é para o tratamento das conjuntivites. “O que acontece com atropina, é que ela vai dilatar a pupila e ao fazer isso, o paciente vai referir uma certa dificuldade visual, terá uma visão borrosa, induzida pela midriaze que este medicamento faz, porém, quando interrompida a administração, a pupila volta a posição normal. Ela sim, não é indicada para o tratamento da conjuntivite, mas não causa cegueira” explicou a médica.