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Sociedade

Homem força esposa a manter relações sexuais com amigos para comprar drogas

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"No princípio tive medo. Mas, quando me apercebi que estive à beira da morte, ganhei coragem e fui denunciá-lo."

Cecília Xavier*, de 47 anos de idade, residente na cidade de Nampula e natural do distrito de Guruè, província da Zambézia, é uma das vítimas da violência baseada no género. Ela sofreu vários tipos de violência, com destaque para a sexual, física e psicológica, perpetrada pelo ex-marido. Para além de ter perdido o seu emprego, contraiu infecções sexualmente transmissíveis porque o esposo a forçava a manter relações sexuais com os amigos em troca de dinheiro para comprar drogas.

Estima-se que uma em cada três mulheres em todo o mundo já sofreu violência física ou sexual por parte do parceiro íntimo ou de violência sexual por outra pessoa, em algum momento das suas vidas (OMS, 2021). Cecília Xavier faz parte desta estatística. A sua história começa quando o seu companheiro perdeu emprego na empresa onde exercia funções de segurança privada na cidade de Nampula. Frustrado com a situação, o homem passou a consumir álcool e drogas. O ex-marido deslocou-se para o local de trabalho da vítima e envolveu-se em pancadarias com alguns funcionários da instituição, acusando-os de serem amantes da mulher.

Segundo relatos da nossa interlocutora, o episódio chegou ao departamento dos recursos humanos da instituição, tendo culminado com a suspensão das relações contratuais. Desesperada, Cecília decidiu denunciar o caso a família, na expectativa de encontrar uma solução para o problema. Ambas as famílias se reuniram para sensibilizar o indivíduo a mudar de comportamento.

Sucede que, mesmo com a intervenção dos familiares, o homem, de 53 anos de idade, com quem teve um filho, não mudou de comportamento e continuava a violentá-la. Primeiro, agredia fisicamente e a ameaçava de morte, caso ela o impedisse de vender produtos alimentares e alguns electrodomésticos da casa, para satisfazer os seus vícios. No auge dos ataques, o marido forçou-a a ter relações sexuais com três dos seus amigos para obter dinheiro e adquirir drogas.

Durante esse envolvimento, Cecília contraiu sífilis. “Quando aquilo aconteceu, voltei a comunicar a minha família. Sentamos outra vez para conversar e foi decidiu que se ele voltasse a violentar-me deveríamos levar o caso à justiça”, revelou.

Mas nada mudou. O indivíduo continuou a praticar a violência contra a esposa. “Um dos casos que me chamou a razão foi quando ele rasgou e queimou os meus documentos pessoais para que não tivesse acesso a novas oportunidades de emprego. Fui sempre vítima de agressões físicas e psicológicas, mas nunca vou esquecer desse episódio”, contou.

Quebrar o silêncio

Cansada de viver de injúrias, a nossa interlocutora diz que decidiu quebrar o silêncio às autoridades policiais para a resolução do problema. “No princípio tive medo. Mas, quando me apercebi que estive à beira da morte, ganhei coragem e fui denunciá-lo. Os vizinhos sempre me aconselharam a denunciar o caso à justiça, mas estava com receios por temer que ele fosse condenado”, desabafou a fonte.

Nas mãos da justiça, Cecília decidiu declarar divórcio e o marido aceitou também. Visivelmente satisfeita com o rumo dos acontecimentos, ela diz sentir-se livre dos abusos de que foi vítima e procurou outro relacionamento. Desta vez casou-se com um ancião da igreja pentecostal. E a relação já dura dois anos. Actualmente, Cecília é uma mulher livre e com o novo relacionamento sonha em erguer casa própria, porque para além de ser religioso, o marido actual é antigo combatente. Usando da sua experiência, Cecília aconselha outras mulheres que estejam a passar o que passou, a quebrarem o silêncio denunciando às autoridades policiais todo o tipo de violência, porque existe sempre solução.

Refira-se que Moçambique enfrenta desafios significativos relacionados com a violência baseada no género (VBG), incluindo abuso doméstico, uniões prematuras, e outras formas de violência contra mulheres e raparigas.

A construção desigual do lugar das mulheres e dos homens é tido como a origem da violência contra a mulher. Entretanto, existem outros factores que contribuem para a problemática. Ercio dos Santos Lopes, activista social e director da Associação Aliança Comunitária de Nampula, destaca a importância de uma escolha criteriosa na busca por parceiros, enfatizando que a precipitação nesse processo pode ter consequências, como a ocorrência de violência. Ele ressalta que tanto mulheres quanto homens devem fazer escolhas conscientes, valorizando aspectos como o amor, e não se baseando exclusivamente em critérios como dinheiro ou fama. A ênfase está na importância de considerar valores fundamentais para a construção de relacionamentos saudáveis, sem responsabilizar as mulheres pela violência baseada no género.

Dos Santos referiu que umas das causas que contribui para o surgimento de violência baseada no género nas comunidades, prende-se com consumo sem precedente de drogas por parte dos jovens. “Se formos a fazer o balanço, o consumo de drogas é um dos factores que contribui para o surgimento da VBG nas nossas comunidades, daí que urge criar acções para travar esta problemática que coloca em causa a nossa moral”, frisou.

*Nome fictício

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