Eleições Gerais 2024
Tensão pós -eleitoral: Protestos mortais, destruição e actos de brutalidade marcam 7 de Novembro

O dia 7 de Novembro de 2024, se tornou um marco sombrio na história recente de Moçambique, com protestos violentos que resultaram em mortes, feridos, e uma onda de destruição um pouco por todo o país, com particularmente na cidade de Maputo. O que começou como uma manifestação pacífica contra os resultados das eleições de 09 de Outubro, convocada por Venâncio Mondlane, candidato presidencial do partido PODEMOS, rapidamente se transformou em um cenário de brutalidade e angústia perante um povo que clama pela justiça eleitoral.
Na manhã de hoje, manifestantes se reuniram em pontos estratégicos da cidade de Maputo, como a Praça da OMM, Alto Maé, Joaquim Chissano e Paragem Saul , pedindo a anulação dos resultados eleitorais, abaixo ao assassinado de pessoas inocentes e a entrega do poder ao povo. No entanto, os confrontos com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) se intensificaram à medida que a polícia começou a usar gás lacrimogêneo e balas reais para dispersar os manifestantes.
Os protestos pacíficos deram lugar a uma violência desmedida, que deixou dois mortos no bairro da Machava, onde a corporação policial recorreu a balas verdadeiras, além de dezenas de feridos.
Uma das imagens mais chocantes e dramáticas que circulam nas redes sociais mostra um grupo de manifestantes, ajoelhados, implorando por misericórdia, para imobilizar a polícia para que não disparasse. Em um acto de desespero absoluto, os manifestantes, claramente indefesos, se colocaram em posição submissa, buscando uma oportunidade de diálogo. No entanto, a resposta das autoridades foi inesperada e brutal. Sem aviso, os agentes dispararam directamente contra o povo desarmado, sem remorso nem piedade, como mostram os vídeos que rapidamente se espalharam pela internet.
Essas imagens dramáticas têm gerado uma onda de indignação e revolta entre os cidadãos, que veem nelas um retrato sombrio de uma repressão violenta e sem limites.
As imagens não mentem. O grito de dor das famílias que perderam seus entes queridos já está sendo ouvido pelas ruas de Maputo.
As duas vítimas fatais são apenas o início de um sofrimento profundo, que não se limita às perdas materiais, mas alcança o coração de um povo marcada pelo luto e pela indignação. As cenas de destruição nas ruas de Maputo são igualmente devastadoras. O comércio ficou obstruído, como no caso de Shoprite, que foi saqueada e depredada. A loja da Vodacom também foi assaltada.
As Forças de Defesa e Segurança, que haviam intensificado sua presença na cidade, continuaram a usar força excessiva para tentar restaurar a ordem. O uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes elevou ainda mais a tensão, criando um ambiente de medo e incerteza nas ruas da capital. Os hospitais da cidade agora lidam com um número crescente de vítimas do confronto, muitos com ferimentos graves. As famílias, principalmente, enfrentam uma angústia indescritível, à medida que aguardam notícias dos seus entes queridos, alguns desaparecidos, outros feridos e muitos marcados pelo trauma físico e psicológico.
A cidade de Maputo, normalmente movimentada e vibrante, foi tomada pelo luto. Mães que perderam filhos, filhos que perderam pais, e pessoas comuns que perderam suas vidas, agora se veem lidando com as consequências de um governo que respondeu com violência a um grito por justiça. O drama humano é imensurável.
Venâncio Mondlane, líder das manifestações, que havia prometido se unir ao povo nas ruas para exigir a anulação dos resultados eleitorais. No entanto, segundo Mondlane, foi o próprio povo que o proibiu de participar da manifestação, alegando que ele corria o risco de ser morto pela polícia. Para preservar sua segurança, permaneceu em local incerto, mas segue liderando os protestos de forma remota por meio de suas redes sociais.
Mondlane endereçou suas condolências às vítimas dos baleamentos e garantiu que os protestos continuarão até que a verdade eleitoral seja reposta.
À medida que a situação se desenrola, a população continua a viver um clima de incerteza, enquanto as autoridades tentam restaurar a ordem nas ruas. O país, porém, não pode ignorar o profundo trauma causado por uma violência que agora afecta todos os moçambicanos, e a dúvida sobre o futuro do país ainda continua uma incógnita. (Lourenço Soares)