Política
Arsénio Henriques: mais papista que o Papa

Na sessão que neste sábado terminou, houve momentos que provocaram nervosismo nas hostes nyusianas: O momento em que Óscar Monteiro exigia a inclusão do tema da sucessão presidencial na agenda do Comité Central.
Para Óscar Monteiro, a agenda da reunião da ACLLN não podia se limitar a questões administrativas da ACLLN, passando à margem de uma das prioridades do momento, o que chamou por “elefante branco” presente na sala, que é a indicação do sucessor de Filipe Nyusi.
Óscar Monteiro ainda estava a discursar quando as imagens televisivas começaram a indicar turbulência na captação até que, finalmente, o sinal foi interrompido. “Afinal, era Arsénio Henriques, o antigo jornalista da STV, agora adido de imprensa do PR, a interferir, grosseiramente, no trabalho dos repórteres convidados e credenciados pelo partido Frelimo para a cobertura do evento”, anota o MISA Moçambique.
“Arsénio Henriques começou por virar, ele próprio, as câmeras das televisões, antes de ordenar a retirada imediata de todos os jornalistas que se encontravam na sala que acabava de ficar gelada com os pronunciamentos de Óscar Monteiro”, descreve a organização.
Aliás, um registo em formato áudio a que o MISA teve acesso mostra que, de facto, Óscar Monteiro ainda estava a confrontar o presidente sobre a sucessão, quando os jornalistas foram compulsivamente retirados por Arsénio Henriques. Vários jornalistas que testemunharam o caso contaram, ao MISA Moçambique, ter sido um episódio humilhante, embaraçoso e de total falta de respeito pela classe.
O MISA Moçambique emitiu um comunicado repudiando, “nos termos mais veementes”, esta grosseira interferência do adido de imprensa do PR no trabalho jornalístico. O MISA lembra ao senhor Arsénio Henriques que o jornalismo, uma profissão que um dia ele próprio exerceu, não é uma actividade de puxa sacos que os adidos de imprensa devem limitar quando assim o entenderem e ao seu bel-prazer. “Pelo contrário, trata-se, isso sim, de uma actividade nobre, que se rege por princípios constitucionais, que estão acima de qualquer adido de imprensa, princípios que incluem a independência dos jornalistas no exercício da sua profissão”, anota.
O MISA reconhece o direito ao partido Frelimo ou a qualquer outra entidade de realizar sessões à porta-fechada. O que, para o MISA, não é razoável é um adido de imprensa escorraçar repórteres que foram convidados para a cobertura do evento. Se o adido de imprensa pode recusar o direito de jornalistas em cobrirem determinados momentos das reuniões da Frelimo, o que tem sido prática, já não é aceitável ele ir virar câmeras de repórteres em plena gravação, diz.
“Ao proceder desta forma, o adido de imprensa do presidente tornou-se num violador directo da liberdade de imprensa que, entre outros, pressupõe o livre exercício da profissão, nos lugares onde o jornalista estiver por haver interesse público ou por terem sido autorizados a presença, como foi no caso”, acrescenta.
Em vários eventos anteriores, Arsénio Henriques solicitou jornalistas para se retirarem das salas das reuniões, o que a classe nunca rejeitou. Por isso, o MISA não encontra razões para, desta vez, o adido de imprensa do PR ter partido para cima das câmaras e da classe jornalista. Aliás, é estranho que Arsénio Henriques tenha se lembrado que os jornalistas não estavam permitidos a permanecer na sala justamente na hora em que Óscar Monteiro fazia o discurso que embaraçou a actual liderança da Frelimo, constata o MISA.
Por isso, entende o MISA Moçambique, esta actuação foi mais um acto de censura para evitar a difusão dos pronunciamentos de Óscar Monteiro, que qualquer outra alegada explicação. Para o MISA, não é tolerável pessoas ligadas ao mesmo partido Frelimo que convidou jornalistas para a cobertura do evento, escorracem-nos de forma humilhante, como fez o senhor Arsénio Henriques.