Opinião
Força sem justiça é tirania

Num país com uma justiça eleitoral credível, todos os cidadãos estariam calmos, porque convencidos que a verdade eleitoral prevaleceria e a paz social também.
Neste País, com uma justiça eleitoral dependente, politizada e sempre protectora do mais forte, haverão sempre tumultos, turbulência e confrontos pós eleitorais, porque existirão cidadãos desesperados que optarão pela justiça pelas próprias mãos.
Note-se que a existência de tribunais e conselhos especializados não significa necessariamente a existência de justiça. O nosso caso específico tem sido um exemplo evidente. Administração da justiça é muito mais do que criar tribunais e nomear
“Venerandos” que a sociedade não venera.
A ausência de justiça estadual é um apelo à justiça privada. E ai o Estado que não cumpriu o seu dever de administrar justiça, virá depois se exceder no seu poder de reprimir.
Mas, se não houver previamente justiça, a força do Estado perde legitimidade moral e só gera violência e rebeldia. Abre-se o ciclo da violência. E onde abunda permanentemente a violência é porque escasseia democracia e Estado de Direito.
Há muito que exigimos ao Estado moçambicano um equilíbrio entre o seu dever de administrar justiça e o dever de administrar o uso da força. Para isso, o nosso Estado precisa de se revestir de um poder judicial forte, independente e credivel. Mas, a opção dominante têm sido tendencialmente investir mais em meios de repressão do que num aparelho de justiça credível, no pressuposto erróneo de que a injustiça será sempre garantida através do uso da força contra os que se sentem injustiçados e decidem fazer justiça pelas próprias mãos.
Há claramente um desequilíbrio perigoso entre o dever do Estado de administrar justiça e o poder do mesmo de usar a força.
Não sei quantos mais anos precisaremos de viver em permanente instabilidade social, num Estado de Direito faz de conta e num permanente clima de conflito entre os moçambicanos, que se agiganta nos períodos eleitorais, para se apostar na gestação de uma poder judicial independente, forte e credível.
Um dia a sensação de injustiça popular será tanta que não teremos meios suficientes para impor a ordem pela força. Pois, violência gera violência e a escalada de violência pode chegar a uma indesejada e indesejável perda de controle pelo próprio Estado.
Como disse Blaise Pascal, justiça sem força é fraqueza, mas …. força sem justiça é tirania!
Texto: Gilberto Correia