Cultura
18 de Março: O dia que o regime descarregou sobre fãs de Azagaia

Faz hoje, 18 de Março, um ano em que o regime comandado por Filipe Nyusi, Presidente da República, mostrou brutalidade e selvageria policial contra milhares de jovens em plena capital e não só, que pretendiam homenagear Azagaia.
Naquela manhã passavam nove dias após a notícia de falecimento do cantor e dias antes, por iniciativa de jovens, pôs-se a circular pelas redes sociais mensagens indicando que o “rapper” seria homenageado nas ruas de várias cidades moçambicanas. Na verdade, uma semana antes do 18 de Março, o regime mostrara que não estava para brincadeiras: bloqueou a passagem de Edson, no caixão, com sua Luz, por uma das avenidas da cidade de Maputo, enquanto era acompanhado por milhares de jovens na capital do país.
Aliás, no dia do funeral do Azagaia houve escaramuças entre fãs e a polícia, com este último a mostrar força perante aos fracos – quase que tentou inviabilizar o cortejo fúnebre. O 18 de Março ficou para a história da juventude do país quando pela manhã, a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) descarregou sobre jovens armados com cartazes e altifalantes.
Uma das primeiras justificações da polícia no fim do dia era de que os jovens estavam embriagados, mas não demonstrou tal facto. Na manhã de 18 de Março, um sábado, agentes da polícia moçambicana alegaram ter “ordens superiores”, nunca esclarecidas, para dispersar grupos que pretendiam realizar marchas pacíficas, anunciadas às autoridades municipais, em vários pontos do país em homenagem ao “rapper” de intervenção social Azagaia, que morreu por doença uma semana antes.
Balas de borracha, fumo resultante de gás lacrimogénio, detenções, espancamentos foram os prémios que a Frelimo atribuiu aos jovens que pretendiam homenagear Azagaia.
A repressão policial, que ocorreu sobretudo em Maputo, deixou detidos e vários feridos, tendo posteriormente os organizadores das marchas submetido recursos às autoridades nacionais e estrangeiras para responsabilização face ao que classificam como força desproporcionada exercida por aquela corporação.
Mais tarde, o vice-comandante da polícia, apareceu em público a dizer que os jovens estavam a tentar dar “golpe de Estado” e por isso a polícia tomou medidas. Duas principais vítimas ficaram conhecidas naquele dia: Inocêncio Manhique e Marcos Amélia que foram atingidos por balas de borrachas disparadas pela polícia da República de Moçambique. Ambos foram socorridos, mas perderam os olhos.
Os dois jovens pedem responsabilização ao Estado e seus agentes com uma indemnização de 700 milhões de meticais, mas que ainda não teve avanço substancial nos órgãos de justiça.
Os episódios de 18 março mereceram a condenação de várias entidades que alertaram para a violência policial injustificada face a grupos pacíficos e desarmados, classificando-os como um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão e de manifestação em Moçambique.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou, na altura, averiguações à ação policial nas marchas, considerando, no entanto, que as autoridades tinham informações de que existiam “infiltrados” que queriam atingir “outros intentos” com a homenagem ao ‘rapper’ Azagaia, lamentando os distúrbios ocorridos.
Na informação anual sobre o estado da Justiça no país naquele mesmo ano, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, afirmou que o Ministério Público abriu processos-crime contra agentes envolvidos nos confrontos de 18 de março, mas desde então não se conheceram mais desenvolvimentos.
Azagaia, que ficou célebre pela crítica aberta à governação, foi encontrado morto em casa em 09 de março, após uma crise de epilepsia, segundo a família, consternando milhares de fãs, sobretudo jovens, em Moçambique e em toda a lusofonia, onde seu nome já era conhecido.
Parte dos fãs de Azagaia que foram impedidos de honrar o seu ídolo