Sociedade
Ataques terroristas em Chiúre forçam encerramento de três escolas em Namapa

Estão cada vez mais visíveis os impactos negativos das incursões dos terroristas que nos últimos dias actuam nos distritos limítrofes de Cabo Delgado com Nampula. Recentemente, os insurgentes atacaram o distrito de Chiúre, de onde incendiaram as casas das populações, infraestruras públicas e religiosas provocando a fuga de mais de 70 mil pessoas para os distritos de Ancuabe e Balama, na província de Cabo de Delgado, e na vila de Namapa, no distrito de Eráti em Nampula.
Dados actualizados pelas autoridades governamentais de Nampula em que NGANI teve acesso, referem que, mais 30 mil pessoas se refugiaram para o distrito de Eráti, à procura de abrigo. Sessenta por cento dos deslocados são crianças em idade escolar que decidiram abandonarem as suas aldeias junto dos pais e encarregados de educação.
Os deslocados viram-se obrigados a invadirem as salas de aulas em três estabelecimentos de ensino, sendo, dois do ensino primário e uma escola secundária incluindo o centro de internamento local. Face a este cenário, mais de 13 mil alunos deixaram de frequentar à escola por alegadamente as suas salas de aulas estarem a servir de centros de acolhimento das vítimas dos ataques terroristas, situação que poderá colocar em causa o aproveitamento pedagógico.
Aliás, os alunos provenientes dos distritos afectados pelo terrorismo, poderá, igualmente, perder o ano, caso a situação prevaleça. A suspensão de aulas nas escolas que servem de centros de acolhimento das vítimas dos insurgentes está a gerar mal-estar por parte das organizações internacionais que actuam na proteção dos direitos da pequenada.
O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em Nampula, Baissane Juaia, diz ser urgente a intervenção da comunidade internacional sobretudo na alocação de tendas e outros apoios visando descongestionar as salas ocupadas pelos deslocados que culminará com a criação de salas provisórias. Juaia, lamentou por outro lado, o recrudescimento dos ataques terroristas nos distritos visados e a perda do ano lectivo por parte das crianças deslocadas e pede pela unificação de sinergias para devolver a alegria aos petizes.
INGD denuncia oportunismo
Na semana passada, a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução dos Desastres Naturais, (INGD), Luisa Meque, esteve em Namapa, para monitoriar a situação provocada pelos insurgentes.
No terreno, Meque não gostou do que ouviu e viu, tendo denunciado haver pessoas não deslocadas nos campos de acolhimento para supostamente beneficiarem dos donativos do governo e das pessoas de boa vontade, movidas com a causa. Para Meque, a acção perpetrada supostamente pelos seus homens poderá comprometer a assistência humanitária aos deslocados e diz ter constuitida uma equipa para corrigir o problema. NGANI apurou de fontes no local, que a pretensão dos prevaricadores visa, essencialmente, os desvios de apoios para fins desconhecidos.
Apesar dos donativos que os deslocados têm vindo a receber, a assistência humanitária ainda contínua deficitária, reconheceu Luísa Meque. Na ocasião, a presidente do INGD pediu maior vigilância nos centros de acolhimento transitório dos deslocados, enquanto se estuda a possibilidade por parte do governo da criação de outros centros na vila distrital de Erati e não só.
A vigilância foi igualmente, reforçada pelo chefe do Conselho Executivo Provincial, Manuel Rodrigues Alberto que visitou, na semana finda, os deslocados que se encontram nos centros transitórios no distrito de Erati.
Na visão do governante, devido a movimentação da população, presume-se que os insurgentes estejam a se juntar com os deslocados para supostamente criar outras células nos distritos que albergam as vítimas do terrorismo. “Temos que reforçar a vigilância porque, podem existir indivíduos com agendas obscuras que aproventando-se da movimentação das nossas populações da vizinha província de Cabo Delgado para Nampula, começam a implantar as células nos distritos que acolhem os deslocados”, revelou Manuel Rodrigues com semblante de poucos amigos.
Porém, Rodrigues instou o sector da saúde desta parcela do país, a redobrar esforços na disseminação de mensagens sobre as boas práticas para conter as doenças de origem hídrica, com principal destaque para diarréias e colera, incluindo malária e conjuntivite, esta última, que está assolar de forma agressiva Nampula e outras provincias circunvizinhas.
Ministro da Defesa desdramatiza a situação de Cabo Delgado
Falando em conferência de imprensa em Maputo, na última sexta-feira Maputo, o ministro da defesa, Cristóvão Chume, minimizou o problema, alegando não haver recrudescimento dos ataques terroristas em Cabo Delgado.
Para Chume, quem cria instabilidade nos distritos que se localizam a sul de Cabo Delgado, são grupos de terroristas que actuam em números reduzidos, para saquear bens da população, depois de fugir das suas bases em Mucojo, no distrito de Macomia.
Chume garantiu que a situação em Chiúre está controlada porque as forças conjuntas, nomeadamente, as Forças de Defesa e Segurança, SAMIM e da Ruanda estão no terreno para a reposição da ordem. O posicionamento do ministro da defesa está sendo contestado por vários grupos da sociedade Civil e políticos. O edil de Chiúre, Alicora Ntutunha, mostrou-se incapaz na gestão dos deslocados que se refugiaram para vila sede distrital, sustentando que a cada dia que passa, cresce o número de pessoas que fogem dos terroristas que se presume estejam a excassos quilómetros da vila de Chiúre.