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Cultura

Comboio do norte de moçambique ganha espaço num festival de fotografias no Brasil

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Está a ocorrer na histórica cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, Brasil, a exposição de trabalhos de Justino Cardoso e Eduardo Vargas intitulada Comboio d´Olhos. Aberta ao público gratuitamente, a exposição está montada no jardim externo do Museu Casa Padre Toledo. A exposição foi aberta por ocasião do 13º Festival de Fotografia de Tiradentes, que ocorreu ainda neste mês.

Comboio d´Olhos resulta do encontro de Justino Cardoso, reconhecido artista makua do desenho e do teatro do norte de Moçambique, com Eduardo Vargas, antropólogo e fotógrafo mineiro que desde 2015 realiza pesquisa etnográfica no norte de Moçambique. Comboio d´Olhos gira em torno do trem de passageiros que trafega pela ferrovia que corta de leste a oeste o norte de Moçambique. O comboio de utentes, como se diz em Moçambique, circula por um caminho de ferro que atravessa a província de Nampula e conecta o porto de Nacala e a Ilha de Moçambique, no Oceano Índico, às férteis regiões de Cuamba e Lichinga, na província do Niassa, e ao Malaui. O comboio de utentes viaja de Nampula a Cuamba; os comboios de carga transitam mais além. O comboio de utentes é o principal meio de transporte das pessoas, sobretudo makuas, e dos produtos de machamba (roça) entre os inúmeros povoados da região, a mais populosa do país. A circulação destas pessoas e deste comboio têm sido duramente afetadas, de maneira intermitente, pelas condições imperialistas de construção da ferrovia, que a edificaram em regime de expropriação de terras e trabalho forçado; pela guerra de Libertação e pela guerra dos 16 anos, que a transformaram em alvos e a interromperam inúmeras vezes; e pela recente corrida ao carvão mineral, que a estendeu através do Malaui até alcançar as minas de Moatize, na província de Tete, Moçambique, diminuindo significativamente o fluxo do comboio de passageiros em favor da circulação dos comboios de carga, sobretudo carvão. Desenvolvimento é o sortilégio invocado. Paisagens biodiversas e modos de vida tradicionais ou alternativos das pessoas, makuas em especial, são o que estão em risco. É a favor de suas existências que Comboio d´Olhos se movimenta.

A exposição é composta por 21 desenhos de Justino Cardoso que formam a banda desenhada Comboio Áspero e por uma série de retratos tirados por Eduardo Vargas que formam o ensaio fotográfico Olhos Passageiros reproduzidos em grande formato. As imagens foram instaladas em biombo de chapas de metal usando a técnica de lambe-lambe.

O trabalho de pesquisa que dá substância à exposição conta com o inestimável apoio, em Moçambique, da Universidade Pedagógica de Maputo e da Universidade Lúrio.

O trabalho de pesquisa que dá substância à exposição conta com o inestimável apoio, em Moçambique, da Universidade Pedagógica de Maputo e da Universidade Lúrio.

 Sobre a cidade de Tiradentes:

Uma das mais importantes vilas do Brasil colonial, Tiradentes é uma cidade patrimônio situada nas montanhas de Minas Gerais, marcada pelas linhas da imponente serra de São José, pela significativa presença de afrodescendentes, pela arquitetura colonial portuguesa e pela série de festivais que ali ocorrem regularmente, como os de Fotografia, de Cinema e de Gastronomia. Tiradentes tem esse nome em homenagem a Joaquim José da Silva Xavier, que nasceu na região e que viria a se tornar o mártir da Inconfidência Mineira, o principal levante popular ocorrido no Brasil contra o colonialismo português antes da Independência do país. O Museu Casa Padre Toledo, onde está montada a exposição, é um casarão colonial preservado onde viveu o Padre Toledo, um dos inconfidentes, tendo sido sede de reuniões do movimento conspiratório contra a coroa portuguesa. Outro inconfidente notável foi Thomaz Antônio Gonzaga, o poeta acadiano que escreveu Marília de Dirceu e, por conta de sua participação na Inconfidência Mineira, foi degredado pela coroa portuguesa para a Ilha de Moçambique, onde constituiu família, foi chefe da Alfândega e passou os últimos anos de sua vida.

Sobre o Festival de Fotografia de Tiradentes:

O Festival de Fotografia de Tiradentes é um dos principais festivais de fotografia da América Latina. Em sua 13ª edição, reuniu fotógrafos nacionais e estrangeiros em torno de uma série de exposições, palestras, projeções, lançamentos e encontros.

Sobre Eduardo Vargas: Sou antropólogo e fotógrafo brasileiro, professor da UFMG, e desenvolvo pesquisa antropológica na região do Corredor de Nacala em Moçambique desde 2015, desde o início com apoio da UniLurio e, desde 2020, também com apoio da Universidade Pedagógica de Maputo. Em Moçambique foi curador da exposição Corredor de Nacala: Comboio, carvão e gente no norte de Moçambique, exposta no CCBM, em Maputo, em 2018, e na Biblioteca Pública da UniLurio, na Ilha de Moçambique, em 2020. Também em 2020 realizei a exposição Olhos Passageiros – Todos os Olhos nas estações de comboio de Nampula e Cuamba e no próprio comboio de passageiros que circula entre Nampula e Cuamba.

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