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Economia

Escândalo nos silos de Malema: Agrobusiness incapaz de gerir infraestrutura, governo sob pressão

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O projecto de silos que consumiu somas avultadas em dinheiro num investimento público e privado, no distrito de Malema, província de Nampula, com objectivo de absorver as reservas do Estado em casos de calamidades naturais e emergência, encontram-se a funcionar a meio gás devido a incapacidade dos brasileiros da Agrobusiness, situação que já está a criar pressão e nervos ao governo de Malema.  

O desinteresse por parte dos produtores locais em armazenar os seus produtos, com destaque para cereais, sob alegação de custos elevados para o efeito, praticados pela empresa gestora, estratégias pouco claras para sua operacionalização, entre outros aspectos, são apontados como estando na origem da inoperância dos silos, situação que deita abaixo a meta de reaver o investimento aplicado nas infra-estruturas.

Adelino Avela, um dos representantes do fórum dos produtores do distrito de Malema, disse ao NGANI que com transferência da gestão dos silos para a Agrobusiness, o custo de armazenamento, assim como o da farinha de milho processada, subiram de preços, mas a qualidade baixou, quando comparada com o passado. “Antes da empresa brasileira, quase todos os produtores, mais de mil, não apenas de Malema e Ribaué, mas também do Niassa e Zambézia, usavam os silos, porque os custos de armazenamento e processamento eram simbólicos e iam ao encontro dos nossos bolsos”, disse o produtor. “Após a privatização, tudo mudou e achamos por bem abandonar e continuarmos a usar os nossos velhos métodos de conservação e processamento”, acrescentou Avela.

Preocupado com a situação, o administrador do distrito de Malema, Morchido Daudo, disse que tem vindo a acompanhar o processo e está a tentar encontrar alternativas para a operacionalização dos silos. Malema é considerado o celeiro de Nampula e a instalação dos silos, segundo o administrador, era um sonho visando melhorar as condições de armazenamento dos produtos agrícolas, mas isso não está a acontecer.

Com uma capacidade de armazenamento de nove mil toneladas, nos dias que correm, os armazéns estão completamente vazios porque os produtores recorrem aos sistemas de armazenamento rudimentares, em retaliação dos preços aplicados pela Agrobusiness, o que preocupa ainda mais o governo de Malema. Além da elevada capacidade de armazenamento, os silos possuem uma moageira industrial, que bem usada pode processar entre cinquenta e cem toneladas por dia.

“Com o que temos visto no dia-a-dia dos silos, concluímos que a actual empresa gestora não tem capacidades para gerir os armazéns e quando conversamos com eles, alegam que os produtores preferem vender produtos a outros comerciantes”, disse o administrador de Malema, acrescentando que, “além de falta de capacidade de gestão, a Agrobusiness carece de meios financeiros para assegurar o pleno funcionamento dos silos, que compõem um complexo de armazéns e uma indústria moageira de ponta, e deve rever a sua tabela salarial”.

Malema tem uma capacidade de produção de 76 mil toneladas de milho e em tempos de pico de comercialização agrícola, que oficialmente arranca em Maio a escala nacional, as suas zonas produtivas registam um movimento desusado de cidadãos bengalis, paquistaneses, indianos, entre outros, que procuram por cereais para exportação e a preços competitivos e segundo os produtores locais, a Agrobusiness compra com esses grupos em detrimento dos agricultores locais.  

Agrobusiness entrega os silos a um privado

Por seu turno, Ângelo Ferreira, gestor da empresa Agrobusiness, rebateu os argumentos segundo os quais existe falta de capacidade financeira para operacionalização dos silos, tendo citado como exemplo o facto de a empresa ter injectado, recentemente, cerca de 850 mil dólares norte-americanos e um adicional de 85 mil para a reparação dos silos. 

“Em 2022 e 2023, a fábrica operou e processamos cerca de sete mil toneladas de farinha para a população local. Outra quantidade foi para o Programa Mundial de Alimentação entre outros, mas por falta de entendimento, em 2022 tivemos uma reunião onde explicamos ao administrador os termos do contrato e o nosso papel que é o de assegurar a manutenção dos silos e servir a população”, disse Ferreira. “Isso nós fizemos e não consigo entender se há falta de compreensão do administrador. Ele precisa também se empenhar na mobilização e apresentação dos silos aos produtores, para que juntos possamos debater os preços que por sinal foram definidos pelo Instituto de Cereais de Moçambique, proprietário dos silos”, acrescentou.

Ferreira anunciou por outro lado, que a sua empresa rubricou há dois meses um contrato com uma iniciativa privada que se comprometeu em colocar nos armazéns, pouco mais de oito mil toneladas de cereais produzidos nos distritos de Malema e Ribaué, como forma de salvaguardar o investimento feito pela empresa. “Isto não afasta a possibilidade de os pequenos produtores poderem armazenar os seus produtos”, assegurou.

A aquisição dos silos pela Agrobusiness foi na sequência de um concurso público do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável através do projecto SUSTENTA. Alguns sectores avançam que a questão dos silos de Malema não tem a ver com a má gestão dos brasileiros da Agrobusiness, mas faz parte da sabotagem de alguns trabalhadores e funcionários do Estado que antes da privatização, usavam dos fundos resultantes das operações dos silos para fins individuais. Onde estará a razão?

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