Opinião
A ignorância do pseudo-intelectual Felisberto Botão (1)

Hoje vamos falar do Colonialismo e suas variantes. Onde nasceu e de onde provêm as suas raízes, a sua evolução através dos tempos, os seus aspectos históricos e suas consequências. Isto, para tentarmos explicar ao pseudo-intelectual (e “articulista” da treta), de nome FELISBERTO BOTÃO, alguns aspectos que ele desconhece e por isso mesmo somos levados a dizer que estamos fartos de ler as suas baboseiras, amiúde, na rubrica que assina no Semanário EVIDÊNCIAS, de há uns meses a esta data. E que já cheiram mal francamente. E o pior é que deixa o Jornal em questão numa situação pouco simpática por acolher e dar guarida a “estes nacos” de prosa gratuita e grosseira, sem qualquer base de Verdade, Seriedade e Fundamento. Vamos por parte.
O acto de colonizar um determinado território teve lugar desde os primórdios da Humanidade, tendo sido por essa via que a espécie humana se espalhou por todo o globo. A origem desses movimentos populacionais resultou concretamente dos problemas de subsistência (económicos), do excesso demográfico (sociais), bem como das guerras (políticos). A colonização pode efectuar-se sobre um território desabitado ou já habitado por outro povo. De forma geral, os colonizadores apoderam-se das riquezas naturais desse território e impõem o seu sistema político, a sua língua, religião e outros aspectos da civilização material. Os povos indígenas acabam por tudo absorver dos povos colonizadores, bastando para ilustrar essa constatação o exemplo dos nossos antepassados lusitanos face aos poderosos romanos.
Algo bem distinto da colonização é aquilo que se designa por colonialismo, termo que exprime uma ideologia que justifica a colonização como a extensão da soberania de um Estado sobre territórios situados além das suas fronteiras nacionais. Ora, o colonialista afigura-se assim como um indivíduo que não é necessariamente colonizador, mas nutre interesses económicos ou políticos em relação aos territórios ou povos colonizados.
A hegemonia do pensamento Marxista no seio da historiografia teve como efeito prático o estabelecimento de um lugar-comum que visa definir o ideal colonialista como tendo sido gerado por uma originalmente «rapace e racista» direita política. É esta narrativa ficcionada que iremos abordar e desconstruir, demonstrando que o Colonialismo teve a sua génese precisamente no seio do pensamento esquerdista. Ou seja: este senhor não tem feito outra coisa senão enganar os Leitores com as suas “pataquadas” inaceitáveis através das “croniquetas” que vem publicando.
Uma Esquerda racista e colonialista
De acordo com o linguista Alain Rey, os vocábulos colonialismo e colonizador surgiram em França, no início do século XX, mais precisamente pela mão do escritor Charles Péguy. Militante socialista, libertário e anticlerical, Péguy encontrava-se na esteira ideológica de outros homens das letras e políticos franceses, como Victor Hugo, o qual, no ano de 1879, proferiu num banquete celebrativo da abolição da escravatura estas palavras: “Esta África feroz não possui senão dois aspectos: quando povoada, é a barbárie; quando deserta, é a selvajaria! Vamos, cidadãos, apoderai-vos dessa terra. Tomai-a! A quem? A ninguém! Deus ofereceu África à Europa!”.
A 28 de Julho de 1885, em plena tribuna da Assembleia Nacional francesa, Jules Ferry, franco-maçon e político de esquerda que chegou a ser ministro e Presidente do Conselho, afirmava: “Repito que existe para as raças superiores um direito, porque existe um dever para elas. Elas têm o dever de civilizar as raças inferiores”. À semelhança dos actuais esquerdistas que promovem a exportação a todos os povos da ideia dos direitos humanos ou o direito de ingerência humanitária nos países que eles, desde a sua altivez intelectual, consideram mal geridos, Ferry imaginava que os povos colonizados deveriam mostrar gratidão para com os seus benfeitores que lhes levavam as maravilhas da civilização e do progresso, a saúde, a felicidade e paz.
Por seu turno, o republicano e socialista Jean Jaurès considerava que “a civilização que representa a França em África é certamente superior ao presente estado dos indígenas”. Em 1925, o ícone socialista Léon Blum expressava-se diante dos deputados: “Reconhecemos o direito e até o dever das raças superiores de atrair a si aqueles que não atingiram o mesmo nível da cultura e de os chamar ao progresso alcançado graças aos esforços da ciência e da indústria”. O Colonialismo afirmou-se assim como o mito mobilizador da esquerda francesa, um autêntico programa político que fez com que personalidades como Victor Schoelcher, um famoso abolicionista, se tornasse Secretário de Estado das Colónias ou que a igualmente anti-esclavagista Sociedade dos Amigos dos Negros fosse rebaptizada Sociedade dos Amigos dos Negros e das Colónias.
Prosseguindo o que vinhamos analisando da edição anterioir, recordamos que este movimento de expansão colonialista fazia-se notar ainda em 1945, conforme se pode ler no livro “Historiquement Correct / Pour En Finir Avec Le Passe Unique” (Perrin, 2003), da autoria de Jean Sévillia. Segundo este historiador gaulês, o jornal do Partido Comunista Francês, «L’Humanité», referia-se nos seguintes termos às províncias ultramarinas francesas: “As colónias são incapazes de existir economicamente, e por conseguinte politicamente, como nações independentes”. Tal arrogância e desprezo para com os povos africanos deveriam envergonhar a esquerda actual, a qual olvida totalmente (ou prefere manter no olvido) esta página do seu passado histórico.
A Esquerda Portuguesa E a Questão Colonial
Também em Portugal os mais destacados promotores das ideias socialistas revelaram-se absolutamente absorvidos pelo contexto colonial, porquanto este representava “um espaço a domesticar, através da acção da educação e do ensino do trabalho ao indígena que o habitava, onde o colonizado simbolizava a tradição, um espaço pretérito à civilização” (Maria Paula G. Meneses, “O Indígena” africano e o colono “Europeu”: A construção da diferença por processos legais”, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, sem data).