Opinião
Afinal quem é o Comandante-em-Chefe destas atrocidades?

O atentado contra Joel Amaral (MC Trufafa) não é um acto isolado. É um recado. É uma prova, crua e violenta, de que já não é o Estado que tem o controlo da segurança em Moçambique. Alguém está a mandar neste país — e esse alguém não parece ser o Chefe do Estado.
Daniel Chapo, segundo a Constituição, é o Comandante-em-Chefe das Forças de Defesa e Segurança. Mas, na prática, parece cada vez mais um refém dentro do próprio sistema. Porque se políticos podem ser alvejados como se fossem criminosos, e ninguém é responsabilizado, então alguma coisa está podre — e há muito — dentro do aparelho de Estado.
Perante isto, impõem-se duas hipóteses desconfortáveis: (i) ou Chapo finge que manda e é cúmplice por omissão, ou (ii) está a ser minado por dentro, traído por aqueles que deveriam garantir a estabilidade do seu mandato.
Custava acreditar na primeira hipótese. Chapo deu sinais de querer virar a página: recuou nos discursos de sangue, procurou diálogo com Venâncio Mondlane, lançou a “Chama da Unidade Nacional” para reduzir distâncias entre o povo e o poder político. Mas intenções sem consequências são apenas palavras bonitas. E os tiros continuam a calar essas palavras.
A reação de repúdio da Presidência ao atentado é importante, mas não basta. Já não se combate esta violência com comunicados. Combate-se com ações. Com cortes. Com responsabilizações. Porque quando o silêncio do Estado é maior do que o barulho das balas, a mensagem que passa é clara: vale tudo. E o país começa a arder.
Stephen Hawking dizia que “inteligência é a capacidade de se adaptar às mudanças”. Mas o que acontece quando as mudanças são provocadas por gente que não quer paz, nem ordem, nem Estado — apenas poder a qualquer custo? Bauman foi mais directo: “Mais crimes são cometidos em nome da obediência do que da desobediência.” O perigo não está só fora. Está, sobretudo, dentro. Obedecem a quem? Ao Presidente ou aos seus próprios interesses?
Se a violência continuar — e tudo indica que vai — o povo vai perceber que está por sua conta. E vai começar a reagir. Vai organizar-se. Vai defender-se. E, quando isso acontecer, ninguém vai conseguir controlar o que vier a seguir. Nem Venâncio, nem a oposição, nem o próprio poder.
Talvez seja isso que certos grupos querem. O caos é terreno fértil para quem lucra com o medo.
Mas ainda há tempo para mudar o rumo. E essa responsabilidade é do Presidente da República. Chega de silêncio. Chega de hesitação. Quem está mesmo ao seu lado, Sr. Presidente? E quem, dentro do seu Governo, tem as mãos sujas de sangue?
Escrito por: Waka Afrika