Sociedade
Ciclone Jude arrasa Nampula: mortes, destruição e desespero

O ciclone tropical Jude continua a deixar rastos de luto e destruição em várias regiões da província de Nampula. Desde domingo, a tempestade tem causado estragos severos, destruindo infraestruturas vitais como estradas, escolas e centros de saúde, além de provocar o colapso de postes de energia eléctrica, devastar campos agrícolas e desalojar centenas de famílias.
O episódio mais trágico ocorreu na costa do distrito da Ilha de Moçambique, onde uma embarcação naufragou durante uma operação de resgate de mais de 800 pessoas isoladas em Sanguli. Segundo o Instituto Nacional da Marinha (INAMAR), na sexta viagem de evacuação, uma maré repentina e forte virou a embarcação que transportava 28 pessoas, incluindo 25 crianças. Até esta manhã, foram resgatadas com vida 13 crianças e um militar da tripulação, mas dois marinheiros continuam desaparecidos.
As buscas seguem apesar das difíceis condições no mar, garantiu o administrador marítimo da Ilha de Moçambique.
Além desse incidente, sete pessoas morreram devido ao desabamento de casas. As vítimas foram registadas em Nacala-Porto (4), Monapo (1), Mossuril (1) e no bairro Napipine, na cidade de Nampula, onde uma menor foi a última fatalidade confirmada.
A rede viária está gravemente comprometida. As estradas que ligam Nampula a Meconta, Angoche e Moma, bem como Lalaua a Ribáuè e Mecuburi a Rapale, estão intransitáveis. As autoridades admitem que os custos de reabilitação imediata ultrapassam a capacidade do governo provincial.
A Administração Nacional de Estradas (ANE) estima que a reabilitação da via Nampula-Nacala e a ligação com Cabo Delgado leve pelo menos sete dias, com a instalação de manilhas provisórias para restabelecer a transitabilidade mínima.
No setor energético, Mossuril, Ilha de Moçambique e Monapo permanecem sem electricidade. O director regional da Electricidade de Moçambique (EDM) informou que equipas técnicas estão no terreno, mas os cortes de estrada dificultam o transporte de materiais essenciais. Até agora, os prejuízos estimados chegam a sete milhões de meticais, podendo aumentar nos próximos dias.
Milhares de famílias perderam as suas casas e praticamente todos os seus bens, dependendo agora da solidariedade para obter comida, abrigo e assistência médica e psicológica.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, as condições climáticas já voltaram à normalidade, mas em apenas três dias choveu o equivalente a um mês inteiro, agravando ainda mais os estragos.
O governo, através do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), mobilizou equipas multissetoriais para coordenar acções de socorro e assistência às populações afectadas.
Por Júlio Paulino