Sociedade
Vidas Abandonadas: Ary The King e MFA trazem esperança aos vulneráveis

Nas ruas de Nampula, um número crescente de crianças, jovens e até idosos enfrenta uma realidade cruel. Muitos abandonaram suas casas por diversos motivos, geralmente ligados à violência, pobreza e a falta de apoio familiar. Viver nas ruas significa estar à mercê da fome, da exploração, do abuso e da marginalização. São seres humanos invisíveis aos olhos da sociedade, mas cujas histórias, carregadas de dor, necessidade e esperança, se entrelaçam com o desamparo e a luta diária pela sobrevivência.
Estas pessoas, muitas vezes sozinhas e sem amparo, representam o drama humano que passa despercebido, mas que, no entanto, é uma realidade incessante em muitas das nossas cidades. Crianças de todas as idades, com os rostos marcados pela falta de alimentação e cuidados, percorrem as ruas na tentativa de encontrar algo para comer, um abrigo ou apenas um pouco de humanidade. Algumas, já envolvidas no tráfico de drogas ou até na prostituição, tentam se proteger ou se desviar da violência ao seu redor. A cada dia, o número de jovens que caem nesse ciclo de desesperança cresce, gerando um cenário cada vez mais alarmante.
Foi diante deste cenário de vulnerabilidade e ausência de esperança que surgiu, no último domingo, o movimento solidário lançado pelo renomado artista do rap Ary The King, em parceria com a Modern Fashion Association(MFA), com o objectivo de ajudar as pessoas carenciadas e vulneráveis, especialmente as que vivem nas ruas de Nampula. Segundo a comissão organizadora do evento, a iniciativa visa, numa primeira fase, apoiar os jovens e crianças que, por diversos motivos, se encontram à margem da sociedade.
O embaixador do movimento, Aristóteles da Costa Santos, mais conhecido por Ary The King, explicou com clareza o propósito desta ação: “Lançamos hoje esta iniciativa com o intuito de ajudar as pessoas mais carenciadas e vulneráveis. Não estamos a selecionar cor partidária, raça, etnia ou religião, queremos ajudar os nossos irmãos que vivem nas ruas, porque eles merecem o nosso amparo, são seres como nós.” Para ele, a situação dessas crianças e jovens não pode ser ignorada. O movimento visa resgatar esses petizes do mundo vicioso e reintegrá-los ao processo de ensino e aprendizagem, dando-lhes uma chance de reconstruir suas vidas e voltar à sociedade.
Ary The King foi enfático ao afirmar que a iniciativa não será algo passageiro, mas um movimento duradouro, pois ainda há muito a ser feito para tirar as pessoas da situação de abandono. “Este é mais um movimento que veio para ficar. Nesta fase estamos a distribuir comida, calçados, artigos de roupas, entre outros materiais. E nos próximos dias, vamos atacar as crianças com idade escolar que vivem nas ruas, de modo que elas voltem ao convívio de amigos e familiares, já reabilitadas”, enfatizou.
Além de ajudar as crianças e adolescentes que vivem nas ruas, Ary The King também ressaltou a importância de combater o crescente número de jovens dependentes de drogas. “A cada dia, o número dos toxicodependentes tende a ganhar contornos alarmantes, minando de certa forma as futuras gerações”, destacou, lembrando que a ação não se limita apenas à distribuição de bens materiais, mas busca, principalmente, transformar vidas e dar novas oportunidades àqueles que estão a perder a batalha para as drogas e a violência.

O movimento solidário foi lançado em um momento simbólico, já que coincidiu com o aniversário natalício do próprio Ary The King. “Não podia passar bem o meu aniversário sem olhar os outros que vivem na penúria nesta pérola do Índico. Então, decidi aproveitar essa ocasião para também conviver com os meus irmãos da rua, eles precisam de amparo porque são pessoas como nós”, afirmou o artista, com um olhar de empatia voltado para os jovens que, de alguma forma, estavam ali presentes.
Este gesto de Ary The King não é uma ação isolada. No ano passado, ele já havia organizado um almoço solidário para ajudar as pessoas que vivem nas ruas de Nampula. O artista tem demonstrado repetidamente que a sua arte vai além do palco e das palavras, buscando, na prática, promover uma mudança real na vida de quem mais precisa.
Por sua vez, o CEO da Modern Fashion Association(MFA), Tadeu Jayson Tarupe, também destacou a importância da união da sociedade moçambicana em torno dessa causa. “Modern Fashion Association(MFA) é uma associação não só de moda, ela tem trabalhado na promoção de eventos na região norte do país e temos abraçado vários movimentos que têm atraído atenção de muita juventude, assim como a sociedade em geral. Temos visto jovens a beber, temos visto jovens a se desviar com drogas. Então, com este movimento, sentimos que estamos a chamar as pessoas que se sentem identificadas com esta causa”, afirmou Tarupe, enfatizando a necessidade urgente de se buscar soluções para os problemas sociais que afectam a juventude.
A iniciativa também tem planos de expansão. “Nos próximos tempos, o movimento solidário vai abranger igualmente os centros de orfanatos com os mesmos propósitos. Primeiro, começamos com a iniciativa de atacar as crianças que estão nas ruas, que não têm algum órgão que vela pelas suas necessidades, e posteriormente iremos para orfanatos, assim como os hospitais, porque acreditamos que existem pessoas que precisam de ajuda”, disse Tadeu Jayson, com a esperança de alcançar um número ainda maior de pessoas vulneráveis.

Celito Iceu, representante do movimento Amor é Ação, patrono do projecto, também fez questão de compartilhar sua visão sobre a importância desse trabalho. “Estamos a fazer a réplica daquilo que são as nossas missões, e acreditamos que, os resultados são esses que são visíveis, porque a nossa meta é de alcançar aquelas pessoas que são invisíveis lá nas comunidades recônditas”, sublinhou Iceu, com a convicção de que o trabalho realizado pelo movimento tem um impacto real nas vidas das pessoas.
O movimento solidário atraiu a presença de centenas de jovens, crianças e até idosos que vivem à margem da sociedade, oferecendo-lhes uma luz de esperança em meio à escuridão da indiferença. Este não é apenas um gesto de solidariedade, mas um compromisso contínuo de transformar vidas e oferecer um futuro melhor para aqueles que mais necessitam.
Por Agostinho Miguel