Sociedade
Dezassete professores clamam por salários há mais de seis meses em Rapale

Um total de 17 professores de diferentes estabelecimentos de ensino, ao nível do distrito de Rapale, na província de Nampula, está de costas voltadas com o Serviço Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) daquele distrito que dista a cerca de 18 quilómetros do centro da cidade de Nampula, devido ao não pagamento dos seus ordenados, há mais de 6 meses.
NGANI apurou que o problema afecta na sua maioria docentes N4, contratados nos anos de 2022 e 2023 para colmatar o défice de professores naquela circunscrição geográfica, visando reduzir a pressão dos serviços, no caso concreto o rácio professor–aluno, um fenómeno que tem estado a contribuir de forma significativa para a fraca qualidade de ensino no país.
Dados na posse do NGANI referem ainda que, desde que os visados foram contratados, o atraso no pagamento de salários por parte dos órgãos de tutela, tem sido recorrente e o problema agravou-se este ano, de Maio a esta parte.
No período em referência o SDEJT de Rapale deve aos educadores 2 milhões de meticais.
“Nos primeiros meses, recebemos regularmente. Só que desde 2023, estamos a enfrentar dificuldades e o problema agravou-se este ano. De Maio a Outubro, nem sequer vimos tostão nas nossas contas”, disseram.
Os queixosos dizem sentir-se injustiçados, porque os recém-contratados já não tem problemas de ordem administrativa e suspeitam que haja uma rede que se dedica a esquemas de corrupção.“ Não é normal, sermos os primeiros sacrificados. Os colegas que chegaram ontem já não tem problemas de ordem administrativa e não restam dúvidas de que alguém está a facilitar o processo de enquadramento”, denunciaram.
Segundo os visados, a situação em causa tem vindo a trazer repercussões negativas na sua vida, uma vez que, a profissão é a única forma de ganhar a vida.
“Estamos a passar mal, porque torna difícil ficar 6 meses sem salários tendo em conta que temos famílias que dependem de nós. Outros colegas já largaram a profissão e praticam actividades de táxi-mota para conseguir comida e outras necessidades básicas”, revelou um dos visados que decidiu falar em anonimato.
“Para o meu lado, tenho muitas dívidas. Não sei, se não vão levar a minha casa. Nos últimos dias, os agiotas já negam emprestar dinheiro porque estão cansados das minhas promessas incumpridas. Aliás, para alimentar-me tenho estado a recorrer aos meus familiares e pessoas de boa fe”, acrescentou o outro.
Gulamo (nome fictício) revelou ao NGANI que o problema da falta de salário tem estado a comprometer os seus estudos.
“Com este problema não consigo pagar as propinas na faculdade. Às vezes o meu pai é que me ajuda, mas não compensa tendo em conta que ele tem as suas necessidades. Não é só este caso. Para sair de casa para o serviço tenho que implorar o apoio dos meus amigos e vizinhos em valores monetários para transporte, uma vez que, trabalho a 15km da vila de Rapale”, frisou.
Pedimos paciência
O chefe do departamento dos Recursos Humanos (RH) no Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) de Rapale, Ranguisse João Jorge Ranguisse, reconheceu o imbróglio e diz que o mesmo tem que ver com o processo de enquadramento na folha salarial, apesar de ser um caso fora da sua alçada.
“Nos anos de 2022 e 2023 tivemos 76 professores com os mesmos problemas, (atraso no pagamento dos salários), mas até aqui só ficamos com 9 colegas que não entraram na folha salarial, dos 17 que reivindicam o dinheiro. Com a introdução do novo sistema os funcionários entram na folha com a permissão do ministério”, disse. Ranguisse acrescentou que a falta de salários por parte deste grupo de professores está relacionada com o atraso na libertação dos fundos, uma vez que, os educadores são pagos na base da folha salarial paralela.
“Se um colega não consta na folha de salário, temos uma outra folha chamada paralela que parte da criação da Programação Financeira, vulgo PF, junto do sistema e entregamos o relatório à contabilidade pública na direcção provincial da economia e finanças e por sua vez, esta encaminha o expediente à tesouraria para que haja libertação dos fundos. Neste caso, estamos desde Maio que os fundos não foram libertos e é difícil explicar os colegas sobre o caso, tendo em conta que se trata de um problema que leva meses. Pedimos paciência a eles”, sublinhou.
O chefe do departamento dos Recursos Humanos não revelou o dia do pagamento, todavia, assegurou que, trabalhos estão em curso com vista a sanar este problema.
“Como instituição estamos a insistir junto da tesouraria e assim que libertarem os fundos faremos os pagamentos aos colegas. Concordamos com eles porque estão a passar fome. Desde Maio até hoje é muito tempo e na próxima semana vamos enviar a lista dos professores em falta ao Secretário de Estado para encaminhar ao ministério visando a confirmação do enquadramento desses nossos colegas”, assegurou. (Agostinho Miguel)