Eleições Gerais 2024
Nampula: Manifestações continuam com barricadas e paralisação de negócios

No segundo dia da terceira fase da quarta etapa das manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, em repúdio aos resultados eleitorais divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), a cidade de Nampula voltou a enfrentar tumultos nas primeiras horas desta quinta-feira, marcados pela interrupção de actividades, especialmente no comércio informal.
Logo pela manhã, manifestantes bloquearam várias vias estratégicas, incluindo a estrada nacional número 13, próxima ao mercado Waresta e as avenidas do Trabalho e Eduardo Mondlane, no centro da cidade. As barricadas impediram a circulação de veículos, afectando significativamente a mobilidade urbana.
O cenário forçou o fecho de várias lojas localizadas nas avenidas mais movimentadas da cidade, reflexo do clima de insegurança instaurado. A situação foi agravada pelos acontecimentos do dia anterior, quando a vandalização de lojas na zona da Faina e o baleamento de três manifestantes pela polícia elevaram a tensão. Muitos comerciantes decidiram não abrir suas portas nesta quinta-feira.
A circulação de transportes semi-colectivos foi reduzida, obrigando muitos trabalhadores dos sectores público e privado a caminhar longas distâncias para chegar aos seus postos de trabalho.
No distrito de Murrupula, ao sul de Nampula, manifestantes bloquearam a estrada nacional número um, paralisando o tráfego até o meio-dia. Também houve barricadas na linha férrea, resultando no descarrilamento de um vagão de um comboio da Nacala Logistics, que seguia do terminal de Nacala-a-Velha com destino a Moatize, em Tete.
No mercado Waresta, o cenário foi de total paralisação. Após a colocação de barricadas, a polícia interveio com gás lacrimogêneo e balas reais, o que levou comerciantes a abandonarem seus postos e refugiarem-se nas matas do Vieira. Muitos perderam mercadorias e somas de dinheiro ainda não quantificadas.
“A polícia começou a disparar em vez de remover as barricadas. Perdi mercadoria e dinheiro. Fugimos para as matas, mas fomos perseguidos com disparos”, relatou Santos Francisco, comerciante.
Outro vendedor, João Castelo, afirmou que a instabilidade dos últimos dias já compromete os negócios e alertou para possíveis aumentos de preços de produtos básicos na quadra festiva. “Pedimos ao Conselho Constitucional que respeite a soberania nacional e atribua a vitória ao verdadeiro vencedor, porque viver assim só nos torna mais pobres”, disse.
Embora não haja números oficiais de feridos ou mortos, o ambiente permanece tenso, especialmente ao longo da Avenida do Trabalho.
A polícia de Nampula havia agendado uma conferência de imprensa para as 10h00 desta quinta-feira, mas surpreendentemente o evento foi cancelado. O Comando Geral anunciou que se pronunciará em âmbito nacional sobre os tumultos registados nos últimos dias.
(Agostinho Miguel)