Cultura
Raça Oculta: O activista sonoro de Nampula que revoluciona o Rapper

Com batidas que ecoam a resistência cultural e letras que cortam como facas a injustiça social, Raça Oculta, rapper e activista moçambicano, lança MATTHOCO NI MACAKHARAYA (Lares e Suas Tempestades), uma EP que desafia estereótipos e celebra a identidade macua.
Misturando o rap militante com instrumentos e ritmos tradicionais de Nampula, o projecto de sete faixas é um manifesto artístico que expõe violência de género, opressão e a luta diária dos invisibilizados, consolidando o artista como voz incontornável de uma geração que exige mudança. Com mais de oito anos de trajectória, Raça Oculta consolidou-se não apenas como rapper, mas como voz crítica de uma geração. As suas letras afiadas, cortam através de problemas sociais como violência de gênero, estigma e opressão, tornando-o um dos principais nomes do ativismo musical em Nampula.
O título MATTHOCO NI MACAKHARAYA reflecte a dualidade entre o acolhimento do lar e as turbulências da vida.
“Quis retratar como nossas casas podem ser espaços de amor, mas também de conflitos não resolvidos”, explicou o artista. A EP é uma onde à identidade macua, resgatando provérbios locais e histórias orais, mesclando batidas do rap com instrumentos tradicionais de Nampula.
Colaborações com pesos-pesados como Professor Lay, Tony Fernando e MC Ama garantem uma tapeçaria sonora que honra raízes locais enquanto inova. Raça Oculta não esconde as barreiras, “muitos colegas veem o rap como música marginal, sem futuro. Já me aconselharam a mudar de estilo para ser aceito”. Sua resposta? “Prefiro ser lembrado como quem elevou o rap, não como quem o traiu.”
A faixa Kiirelani, feita com Tony Fernando, exemplifica a sua estratégia rap entrelaçado com ritmos dançantes, conquistando o Norte do país. Mostrando que o rap pode coexistir com outros estilos sem perder sua essência.
Uma vitória simbólica em 2022, Raça Oculta quebrou preconceitos ao ser o único rapper no concurso Ikoma Sá Wampula da Rádio Moçambique com Vendedor Ambulante, alcançando o 2º lugar. Em 2023, venceu com Violência Doméstica, provando que o rap tem espaço nas paradas musicais na província. Vendedor Ambulante, a música-tributo aos jovens comerciantes informais virou hino da resistência. “É sobre dignidade. Cada vendedor ambulante é um herói anônimo”, reflectiu o artista.
Violência Doméstica, faixa vencedora de 2023, expõe ciclos de abuso. “Usar o rap para denunciar essas feridas é minha forma de combater o silêncio”, afirmou. Apesar dos prémios na Rádio Moçambique, Raça Oculta enfrenta o preconceito velado de produtores que veem o rap como género de periferia.
“Organizadores de eventos preferem pagar DJs de kizomba a rappers engajados”, denunciou. Mesmo assim, seu sucesso está reescrevendo as regras. Após sua vitória em 2023 com Violência Doméstica, mais reppers surgiram em Nampula, inspirados por sua ousadia. “Estamos a provar que o rap não é só protesto: é poesia, é economia, é futuro”, disse.
Raça Oculta credita nas redes sociais. “Elas democratizaram a música. Hoje, um artista de Nampula pode ser ouvido em Maputo sem intermediários”. Hoje as suas redes sociais tornaram-se em plataforma de diálogo onde recebe mensagens de jovens que se veem nas suas músicas. O cenário da indústria musical em Nampula na visão de Raça Oculta ainda não valoriza o rap como deveria ser, por isso. Dos poucos shows que tem acontecido na Provincia são feitos por amor, não por dinheiro.
Questionado sobre o futuro, Raça Oculta não hesita em dizer que sonha com turnês onde dialogue com artistas de outras cidades e de outros países. Enquanto isso, MATTHOCO NI MACAKHARAYA lembra que, mesmo nas tempestades, o lar é onde se planta a semente da mudança.
MATTHOCO NI MACAKHARAYA é uma carta de amor e protesto, as faixas alternam entre denúncia e esperança.
“Que ecoe em cada lar moçambicano”, conclui Raça Oculta, pronto para incendiar os palcos e consciências.
Victor Xavier